07/01/2015

Cocaína e joelho levaram brasileiro da Champions à várzea

Jonathan Reis PSV Eindhoven Holanda 05/11/2010

13 de dezembro de 2007: Jonathan Jackson de Lima Reis vestiu seu uniforme alvirrubro do PSV Eindhoven, da Holanda, e subiu ao gramado para ouvir a música tema da Uefa Champions League. Do outro lado, estava a Inter de Milão de Julio Cesar, Maicon, Materazzi, Crespo, Zanetti e Ibrahimovic. Ele tinha 18 anos.

4 de janeiro de 2015: Jonathan Jackson de Lima Reis vestiu seu uniforme celeste do Brumadinho, da cidade homônima em Minas Gerais, e foi ao gramado do Campo do Frimisa enfrentar o Retiro pela Copa Itatiaia, mais tradicional torneio de várzea do Estado. 


Fez um gol e seu time ganhou por 2 a 0. Ele tem 25 anos.

Tudo aconteceu muito rápido na vida do atacante Jonathan Reis.

Nascido em Contagem, na grande BH, começou jogando no infantil do Atlético-MG, em 2005. 

Dois anos depois, foi para o Real Caeté, um time de empresários. Em 2007, ia completar 17 anos quando soube que o PSV tinha o contratado por 1,5 milhões de euros. Aos 18, estava jogando a Champions. Aos 25, está na várzea.

O que deu errado no caminho?

Foram duas coisas. A primeira foi o doping por cocaína, que o fez ficar internado por um período em uma clínica de reabilitação. A segunda foi uma lesão gravíssima no joelho, que ficou destruído. Ouviu dos médicos que dificilmente voltaria a jogar. Mas voltou.

Dias de glória na Holanda

"Cheguei ao PSV com 16 para 17 anos de idade. Achei que ia passar um tempão na base, mas fiquei só um mês e fui chamado para o profissional. Nem acreditei! O Ronald Koeman, que hoje treina o Southampton [da Inglaterra], foi me buscar pessoalmente para assinar o contrato", contou Jonathan, em entrevista à Rádio ESPN.


No time principal da equipe de Eindhoven, atuou ao lado de brasileiros como os goleiros Gomes (ex-Cruzeiro) e Cássio (do Corinthians), o lateral Fagner (hoje no Corinthians) e os zagueiros Alex, Marcelo e Alcides, todos ex-Santos.
Dentre os gringos, gostava do futebol do meia Affelay, hoje emprestado pelo Barcelona ao Olympiacos, e do atacante peruano Farfán.

Quando viu, estava jogando contra a Inter de Milão no Phillips Stadium lotado, pela Liga dos Campeões 2007/08. Até hoje ele se lembra de quando ouviu o hino da Champions.

"Tinha o Ibrahimovic no time deles, imagina só (risos)! Eu tinha acabado de chegar ao time, fiquei muito feliz de ter entrado em campo. A música da Champions é sensacional, fico arrepiado só de lembrar. É emocionante demais lembrar que já joguei o campeonato mais importante do mundo, que é o sonho de todo atleta", recordou.

Ninguém podia deter Jonathan, que acabaria campeão da Eredivisie naquela temporada Seu objetivo era, assim como os lendários atacantes Romário e Ronaldo "Fenômeno", ser mais um brasileiro a ter sua foto na parede de glórias do clube.

E foi aí que tudo começou a dar errado.

Drogas e lesão no joelho

A cabeça do menino que deixou o Brasil com 16 anos para se aventurar na Europa não aguentou a fama repentina. Com o dinheiro, vieram as baladas, a bebida, as más companhias... Após sair de férias, em 2009, se reapresentou com cinco dias de atraso. O PSV achou que algo não ia bem, e pediu para que ele realizasse um exame toxicológico.
O exame deu positivo para cocaína.
Jonathan Reis PSV Vitesse Campeonato Holandês 31/10/2009
A equipe holandesa sugeriu que ele fosse internado em uma clínica de reabilitação na Escócia, mas o atacante não quis. Teve seu contrato rescindido. 
 
Mas foi aí que Jonathan viu que estava jogando sua vida pela janela. Internou-se em uma clínica no interior de Minas, para se livrar de vez das drogas - além de cocaína, usava maconha. Em um mês e meio, apresentou ótimos resultados. O PSV resolveu que valia a pena apostar nele novamente, e recontratou o brasileiro. 
 
"Eu era dependente químico, viciado em drogas, mas consegui me livrar. Foi a coisa mais difícil que já passei na vida, mas consegui me livrar de uma vez por todas. Só tenho que agradecer à minha família, meus amigos e meu empresário, que me ajudaram demais na hora da dificuldade. Tenho fé em Deus e não vou errar de novo", assegurou. 
 
"Quando eu cheguei, estava jogando bem. Veio a fama, o dinheiro, e não tive estrutura para aguentar. Hoje, alerto: tem que tomar cuidado pra não deixar o sucesso subir à cabeça.  
 
Aparece um monte de gente que só quer saber do seu dinheiro, aqueles 'amigos da onça'.  
 
Quando você está por baixo, todo mundo some...", completou. 
 
No retorno à Holanda, o atacante rapidamente mostrou que estava a fim de dar a volta por cima. Na temporada 2010/11, começou fazendo oito gols em 11 jogos, inclusive um hat trick na espetacular goleada por 10 a 0 sobre o Feyernoord, que fez os torcedores o aplaudirem de pé. Tudo estava nos trilhos, e Jonathan caminhava a passos largos para ser um dos nomes do ano no futebol europeu. 
 
Mas a vida ainda lhe reservada mais um desafio. 
 
Durante um jogo contra o Roda JC, pelo Campeonato Holandês, o brasileiro levou uma trombada feia do goleiro Tyton no joelho. Teve menisco, patela e ligamentos totalmente destruídos. O PSV imediatamente o enviou a Denver, nos Estados Unidos, para ser operado pelos melhores especialistas. 
 
Ao final do procedimento, ouviu do médico uma frase que até hoje ecoa em sua cabeça: "Sinto muito, mas suas chances de voltar a jogar futebol são de 5%".

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